Os
brasileiros muito jovens se não se lembram, os mais velhos sempre os fazem
saber que houve um tempo neste país em que o poder aquisitivo era muito
alterado para menos em razão de horas. Uma visita aos mercados um ou dois dias
depois do planejado representava uma evidente e substancial menor quantidade de
produtos nos carrinhos.
Clássica e jocosamente, economistas e jornalistas
referem-se à inflação como um dragão. Quimera mítica capaz de consumir e
destruir tudo que lhe atravessasse a frente, crescendo de modo incontrolável.
Quase
vinte anos depois, o dragão virou uma droga. Bom, pelo menos é como fazem
parecer nossas autoridades monetárias, viciadas em gastos públicos e
dependentes de uma ideologia esquizofrênica. Sonham um socialismo romântico e, abominando
o liberalismo, constrangidas mal disfarçam a privatização, apenas mudando o
nome “concessão”.
As
drogas, especialmente aquelas que alucinam, exercem um efeito comum e
devastador sobre seus dependentes. Além do torpor e da letargia, oferecem tanto
prazer que, diante da realidade incontornável e insuportável, todos seus
usuários têm convicção de que exercem absoluto controle sobre elas e acreditam que
podem se abster, a qualquer tempo natural, cândida e espontaneamente. Depois da
alegoria, veem-se depauperados, corroídos e desestruturados pelo monstro, droga
ou dragão, desesperados por mais uma dose de euforia.
Passados
estes tantos anos a lenda do dragão parece uma fábula ancestral de tempos
longínquos, irreal e surreal. A ausência de retrospectiva promove uma
psicodélica perspectiva de que o bicho não passa de uma lagartixa, inofensiva.
Aqueles que pretensamente pensam poder controlar a inflação revelam-se como
dependentes desta droga econômica e social que consome povos e nações.
Poderiam,
ou deveriam fazer como os Alcoólicos Anônimos que celebram cada dia de
abstinência como mais uma pequena vitória e independência, mantendo e renovando
sempre os fundamentos que viabilizaram a estabilidade dentro de metas objetivas
e necessárias. Cada dia deve representar a coerência, às vezes impopular do
exercício da razão, lembrando Renato Russo que há tempos já ensinava – Disciplina
é liberdade... Mas esse é o caro e antipático preço da liberdade, a coerência madura
e responsável.
Ah,
mas é tão sedutora a ilusão da popularidade que inebria até o mais pragmático
dos burocratas tornando-o narcisista e populista, causa e efeito deste delirium tremens econômico que mascara
resultados e sonha índices que não apontam, mas acusam sua inépcia.
Eis-nos
mais uma vez diante deste nauseante círculo vicioso, dependentes cada vez mais quanto
mais altivos e seguros, na certeza insofismável de nosso poder incondicional
sobre o dragão, deliramos. Inflação, droga ou dragão, a certeza é a submissão.
A submissão não nossa, mas sim da nossa classe política que esta a deriva, estão precisando, quem sabe, ir para faculdade e aprender com aqueles que a debelaram alguns anos antes... mas Escola não é muito importante para esse pessoal, afinal seu Mister Maior era quase um analfabeto....
ResponderExcluirCom bastante efeito meu amigo professor. Dizem que as manifestações populares são contra os partidos políticos, contra as instituições. Eu acho que de fato, a rua não suporta mais partidos oportunistas que depois se apropriam dessas imagens em suas propagandas.
ExcluirQueremos PARTIDOS SIM, mas efetivos e representativos onde deveriam funcionar adequadamente no congresso e nas câmaras por todo o país.