quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Natureza Morta?

Amante e amador de toda arte e suas modalidades, música e teatro, pintura e escultura, literatura, prosa ou poesia, dança, cinema e fotografia eu delirava, sempre, acerca da expressão “natureza morta”. Própria da pintura e também presente na fotografia expressa e expõe seres inanimados como flores e frutas ou objetos como vasos, garrafas e ânforas, entre outros.

Tradição milenar ganhou corpo no renascentismo enquadrando velas e caveiras para ilustrar os ciclos da natureza e, diria, a efemeridade de nossa existência. Qual devaneio, saber-se o homem um ser iludido de sua condição superior (?), sonhar controlar a natureza e capturar sua dinâmica em imagens lindas, mas latentes.

Tão desconectado este animal perdeu bastante as referências mais elementares e naturais que todos mamíferos -e, mais todos vertebrados e invertebrados, os insetos, as plantas e até os vírus, singelos como proteínas- conhecem seu lugar no bioma. Controlador acredita necessário sentir, pensar e agir pela sustentabilidade para preservar a natureza.

Levanta-te ó bípede! Acorda deste encantamento presunçoso. Não é a natureza, muito viva, que precisa ser preservada, mas a humanidade. Desde bilhão de anos atrás, todo ser vivo que “não entendeu” seu lugar, naturalmente falando, foi, é e será extinto. A natureza? Criação inesgotável se renova e encontra soluções diferentes e melhores.

Estamos em 5774 no calendário judaico, 4712 no calendário chinês, 2013 da era cristã e quase no fim de ano islâmico de 1434. Não importa a referência, olvidamos a lição ancestral como lembra anônimo provérbio oriental: “o que mais muda é o que mais fica” ou, se preferires, pode optar por ouvir Lavoisier quando decreta “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Se ainda não entendeu considere Darwin, ainda tão odiado por surdos-míopes, que tenta ainda hoje, incansável, por ordem na casa, simplificando, “nem a força, nem a inteligência, só os flexíveis prosperam”.

Confusos e inconformados em nossa divina semelhança, invertemos sentidos e valores. Até o caipira mais caboclo entende a serenidade paradoxal da expressão “mais muda, mais fica”. Nós, intelectuais sabidos repetimos o ditado popular cantando como Bon Jovi: 
       
        “The more things change, the more they stay the same”


Se fores ainda mais sabido poderá escolher sofrer no ditado original, em francês “plus ça change, plus c’est La même chose.” 

Meu palpite!? Onde todos veem sofrimento inclemente debaixo deste destino implacável, permita-se sentir o mantra universal vibrando a unicidade natural em você. Muito esotérico? Consulte o físico Fritjof Capra em seu best seller "O tao da física". 

Seja mais generoso com a natureza para, menos ressentido, poder descobrir a beleza e a “grandeza” de seres pó, para não se perder e que assim possa mais mudar e melhor ficar.

Um comentário:

  1. Corroborando o conceito de "mudar para ficar" tenho a acrescentar outras duas citações a esse respeito : 1a.) no livro O Leopardo, de Lampedusa, Tancredi(sobrinho do príncipe Fabrizio) diz ao tio : “Se queremos que tudo fique como está, é preciso que tudo mude“ e a 2a.) “Quem é você?” perguntou a lagarta. “No momento não sei muito bem, senhora” respondeu Alice, timidamente. “Eu sei quem eu era quando levantei esta manhã, mas acho que mudei muitas vezes desde então”. (Alice no País das Maravilhas – Lewis Carroll)

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